Fãs de rock gostam de ter, invariavelmente, um outro
gênero musical que sirva de saco de pancadas da vez para sacanear. Na época em
que os neo-pagodeiros tomaram as rádios FM (e nossos tímpanos) de assalto,
bingo, não faltavam piadas sobre o romantismo rasteiro e os cabelos
descoloridos dos caras. No auge do sertanejo, antes desta nova era de caipiras
universitários, os alvos eram os populares donos dos mullets e das calças
apertadinhas. Quando o funk carioca explodiu para o Brasil e para o mundo,
cachorras e tigrões entraram na mira da metralhadora giratória verbal dos
roqueiros. Há cerca de quatro, cinco anos, no entanto, o rock olhou para o seu
próprio umbigo e comprou briga com um subgênero dentro de suas próprias
fileiras. Nascia aí a birra com o chamado emocore ou, para os mais íntimos,
simplesmente emo – sonoridade de hardcore melódico com letras emotivas, de
coração rasgado, resvalando em certas ocasiões no pieguismo. Mais ou menos como
se alguém resolvesse ensinar os quatro acordes básicos do punk para o
Chitãozinho e para o Xororó.
Leve em consideração o fato de que as adolescentes se
desmancharam pelos caras na mesma histeria que outrora era dedicada às boy
bands, levando estes grupos para a capa da revista Capricho, e dá para imaginar
como a galera de outras alas do rock encontrou matéria-prima ideal para horas
infinitas de zoação.
Não faltaram porradas para o lado dos músicos de bandas
como Fresno e NX Zero, talvez dois dos nomes mais destacados desta “categoria”
em território brasileiro. Mas eis que hoje, se você tiver um mínimo de boa
vontade e souber analisar os fatos com a frieza necessária, o fato é que esta
molecada cresceu. E cresceu bem, eu diria. Gostem os detratores ou não.
Musicalmente, eles evoluíram consideravelmente, fugindo dos rótulos e cortando
os vínculos com uma denominação que vinha sendo bastante incômoda e limitadora.
As meninas que se derretiam pelos garotões bonitinhos pareceram, inclusive, ter
sentido a diferença.
A principal mudança pode ser sentida na música dos gaúchos
do Fresno. Lançado de maneira independente, depois de uma conturbada saída da
Universal Music, o recente álbum Infinito mostra uma banda em altíssimo nível,
bem diferente do grupo que se apresentou de maneira um tanto tímida na
equivocada abertura do show do Bon Jovi. Nesta bolacha, eles navegam pelo rock
alternativo, de sabor indie, com arranjos cuidadosos, produção requintada e uma
dose surpreendente de peso – escute “Homem ao Mar”, que abre o disco, e tome um
verdadeiro tapa na cara. As letras, claro, seguem a mesma toada e crescem em
qualidade, tornando-se mais filosóficas, reflexivas, humanistas.
Repare agora no álbum Em Comum, o mais recente lançamento
da trupe do Senhor Mariana Rios, também conhecido como Di Ferrero, do NX Zero.
Por mais que a produção ainda seja de Rick Bonadio (o que, para alguns
especialistas, é sinônimo claro de pasteurização sonora), o lançamento do ano
passado surpreende por apresentar uma banda madura o suficiente para colocar o
pé no freio. São mais de 10 anos de banda, os músicos estão próximos dos 30
anos de idade. O resultado são canções mais suaves, delicadas, harmônicas, sem
necessidade do flerte com o hardcore melódico de outrora. As canções de amor
dão lugar aos temas cotidianos. E “Razões e Emoções” sai da frente para que
“Maré” (meio bossa nova, até) dê as caras.
Daria para citar uma variedade de outros exemplos, como o
do Glória – banda erroneamente colocada por alguns desavisados no mesmo pacote
que Fresno e NX Zero e que, recentemente, lançou uma patada de nome
[Re]Nascido, uma vigorosa incursão metálica, quase thrash metal. Mas acho que
já deu pra entender que os emos de outrora sacudiram a poeira, deram a volta
por cima, e fizeram os haters, meio contrariados, começar a procurar outras
vítimas. Quem serão as próximas?
Musa Musical
Quando o Halestorm (já tema de post aqui no blog), banda liderada pela bela lzzy Hale,
venceu o Grammy na categoria “melhor performance hard rock/metal”, deixando
para trás medalhões como Megadeth, Iron Maiden e Anthrax, o que não faltou foi
#mimimi dos fãs das antigas, reclamando da escolha, coisa e tal. Mas também não
faltaram marmanjos babando ao descobrir a voz e o rostinho encantado da moça. Em
que grupo você prefere se enquadrar?
Texto: Thiago Cardim
Comentários
Postar um comentário