Eu já votei em Protógenes Queiroz. Deputado federal eleito por São Paulo pelo PC do B, ele é um dos principais articuladores de CPIs e investigações contra crimes de colarinho branco. Delegado licenciado da PF, ele é um cara (pelo menos aparentemente) disposto a tentar dar um fim na sujeira generalizada que corroi as engrenagens do nosso sistema político.
A alta conta que temos pelo deputado foi manchada com a notícia de que ele está revoltado com a comédia Ted, dirigida pelo nosso querido Seth MacFarlane. Protógenes foi ver o filme com seu filho de 11 anos – sendo que a censura é 16 anos – e saiu da sessão virado no capeta.
“Assisti com o pequeno Juan o filme “TED” uma cena de apologia as drogas (sic): o ursinho Ted e o seu dono consumindo drogas. Isso e um absurdo!”, disse o deputado no Twitter. E completou: “Acionarei os meios legais, a fim de impedir q o lixo o filme (sic) infanto-juvenil “TED” seja exibido nacionalmente e apurar responsabilidades”.
As declarações de Protógenes são tão repletas de incoerências que nem sei por onde começar. Primeiro, o filme não é infanto-juvenil. Segundo, não faz apologia às drogas. E terceiro, é claro, como pode um deputado achar que tem o direito de regular o que as pessoas podem ou não ver no cinema? Isso soa como o mais nefasto modus operandi comunista: o da censura. Outra declaração do deputado corrobora: “#foraFilmeTED das telas do cinema brasileiro. Não aceitamos mais esses enlatados culturais americanos no Brasil.”
Talvez o delegado não saiba, em seu discurso universitário, que são esses enlatados culturais americanos que garantem a existência da nossa própria indústria cinematográfica. São eles que dão empregos para milhares de profissionais no Brasil, tanto no cinema e quanto na televisão. E, principalmente, são melhores do que 95% de toda a produção nacional.
Protógenes, em entrevista ao Estadão, disse ter ficado “indignado” ao ver um herói da sua infância – “Flash Gordon” – cheirando cocaína no filme. Muito me surpreende que o deputado tenha como herói justamente um protagonista de um “enlatado norte-americano”…
E aliás, senhor deputado, não fique mal por um herói da sua infância consumir drogas. Certamente, a maioria dos seus heróis já usaram drogas em algum momento de suas vidas. Aliás, o senhor fuma? Bebe?
Mas esse não é o caso. O caso é a dor no coração que dá ver que o Brasil segue passos em direção a um preocupante futuro, onde ideias reacionárias e autoritárias surgem de todos os lados, sejam evangélicos, comunistas, prefeitos e – especialmente – comentaristas de blogs. Urgh!
Talvez o deputado possa, em breve, por a cabeça no lugar. Acredito sinceramente que ele vai perceber que está falando absurdos e deixar a poeira baixar. Capacidade para isso ele tem. E eu quero muito poder votar mais uma vez nele. Mas, essa demonstração de autoritarismo e falta de bom-senso, pelo menos por enquanto, já me fez começar a pensar para quem vai meu voto daqui a dois anos.
Texto: Bruno Ondei
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